Para que fazer transferências?

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d jose carlos

Esta pergunta, olhando as reações a essa prática comum na Igreja, poucos se fazem ou buscam respostas.

Normalmente ficam em posturas mais afetivas ou possessivas: "nosso padre", "ele estava bem aqui", "ele não pode sair", "o senhor não pode tirá-lo de nós"... Apesar de haver também os que querem ver longe o padre que têm e apresentam até listas de “queremos estes”. Este tempo é sempre de fadiga e de caras feias. Mas de aprendizado e de graça!

Vamos jogar alguma luz sobre isso! O Bispo não transfere porque tem prazer em fazer isso, porque simplesmente “faz parte” ou porque quer exercitar sua capacidade de reorganizar a diocese a cada ano. Antes de reclamar ou reagir, pense nestas dez palavras:

1) A transferência não é um ato arbitrário e autoritário que recai e pesa sobre a pessoa do bispo. As decisões e transferências são pensadas e construídas num conselho de padres, demandam longas conversas e, às vezes, várias reuniões. Não estamos brincando com pessoas. Os padres são colaboradores indispensáveis e preciosos do bispo, que não tem de cuidar desta ou daquela paróquia, mas de todas, ao mesmo tempo. Todas as transferências foram conversadas, construídas com cada padre. Ninguém foi transferido “a ferro e fogo”, acorrentado e arrastado. Até isso, é bom não esquecermos, pois Jesus o previu a Pedro (Jo 21,15-19). Acerca dos transferidos, houve uma ou mais propostas, uma justificativa, um convite, uma decisão tomada a dois ou a três. Sei o quanto é difícil transmiti-la ao povo, mas ela não foi impositiva e vertical.

2) Normalmente, e isso é humano e bom, criam-se amizades fortes e importantes com o padre durante o tempo, curto ou longo, de permanência, mas não se pode esquecer que o padre não é “seu” ou “nosso”, mas é da Igreja, da Diocese e colaborador do bispo. Isso não é arbitrário, é da natureza da nossa vocação sacerdotal e episcopal.

3) O Direito Canônico fala de uma estabilidade ao pároco (seis anos e mais seis), mas isso não significa que não possa sair antes disso, se há acordo entre o bispo e este padre para outro lugar de missão. Os administradores paroquiais não gozam desta estabilidade canônica. Por isso, a prática entre nós tem sido fazer os padres, por um ano, administradores paroquiais e, se houve bom ajuste e empatia, fazê-los párocos ao final deste período.

4) Neste período, podem aparecer outras necessidades, podem aparecer situações que obriguem a repensar a presença dele ali, podem existir desarranjos e incompatibilidades, e isso obriga a repensar a colocação. Isso não precisa ser trazido à baila. São situações e motivos que ficam guardados no coração do Bispo, até que Deus o faça esquecer. Não precisamos expor as pessoas. Nem apresentar motivos para explicar o que não deu certo. Não é necessário dar os motivos. Basta tê-los. Isso capacita a consciência para agir. Ninguém tem botão de "ajuste automático". Os ajustes se fazem a modo humano, com riscos, acertos e erros.

5) A justificativa de o padre ser bom e querido, ter pouco tempo ali, ter feito bons trabalhos, tudo isso é louvável, mas os critérios são mais abrangentes. A vida paroquial é um leque de responsabilidades, competências e interlocuções. Ninguém é bom em tudo (ou poucos são bons em tudo!). Daí a necessidade de se avaliar a permanência ou não por critérios que ultrapassam o afetivo e o prático. A vida paroquial, sobretudo para os que estão sozinhos numa paróquia, exige múltipla atenção e variada atuação por parte do padre. Aprender isso é um caminho. Nem sempre feito no lugar onde o padre se encontra no momento.

6) É mais fácil apresentar o pedido de transferência quando a permanência já se esticou e até ultrapassou tempos legais. A mudança fará bem a todos, ao padre e à comunidade. Isso obriga a repensar relações, modos de servir e processos novos. Ninguém goza de estabilidade indefinida, nem os bispos! Prazos ajudam a gente a rever muitas posturas, manias e relações.

7) Os padres que são vigários paroquiais, se têm e mostram vontade e capacidade, podem e devem assumir tarefas e lugares mais exigentes. Não se pode deixá-los sempre nesta condição, se estão aptos para “outras águas”.

8) Há, também, a postura fechada que assegura que a paróquia “nunca será a mesma” se o padre sair. Nem a paróquia nem ninguém é o mesmo nunca. Cada dia, cada pessoa, cada situação põem acréscimos novos (bons ou maus). Como posso saber que o outro que vem é, por antecipação, incapaz de continuar e fazer avançar um processo iniciado? Não é precipitação e preconceito? Vidas e relações experimentamos não a partir de fora, mas a partir de dentro.

9) Se um determinado sacerdote é dotado de muitas qualidades e competências a ponto de trazer grandes alegrias e avanços a uma comunidade, ele não pode ser possuído por esta comunidade como um “bem inalienável”. Outros lugares precisam dele e dos seus dons. Ele pode ser o pastor que a comunidade vizinha precisa em vista de suas demandas pastorais, espirituais, administrativas, humanas...

10) A última coisa, mesmo tendo ainda outras considerações, é que nós, padres diocesanos, não estamos desobrigados da dimensão missionária da nossa vocação sacerdotal. Por mais que eu tenha meus gostos e meu perfil, não posso me limitar ao universo de duas ou três paróquias que “teriam meu estilo”. A missão se vive em tempos e modos diferentes. Numa paróquia com a qual eu me identifico menos, talvez não fique tanto tempo como numa outra mais conforme meu perfil, mas isso não me dispensa de pequenas experiências. Elas têm uma força de testemunho diante do povo de Deus, dos demais irmãos padres e dos seminaristas.

Quando chegar a minha vez de ir, mesmo querendo ficar entre os meus, vou pensar eu também nestas palavras! Abraço a todos!

Dom José Carlos.


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